Izcor”, o nome da cerimônia por meio da qual relembramos quatro vezes ao ano – incluindo Iom Kipur – nossos entes queridos que já faleceram, significa em hebraico “lembre-se”. É o começo de uma frase na qual pedimos a Deus que se recorde e que mantenha as pessoas que amamos conectadas à corrente da vida.

Muitas vezes, no entanto, nos recordamos desses entes queridos e sentimos suas vidas entrelaçadas com as nossas todos os dias: quando estamos em dor e precisamos de consolo, quando celebramos uma conquista ou outro fato feliz de nossas vidas, quando nos olhamos no espelho e enxergamos seus traços nos nossos, quando nos ouvimos dizendo frases que eles nos ensinaram ou vivendo de acordo com valores que herdamos deles.

Já à primeira vista, fica claro que a memória é uma característica central da tradição judaica: a transmissão da tradição de geração em geração, le’dor va’dor, especialmente festas judaicas relacionadas a um tempo passado. Quando nos detemos a observar com mais cuidado, porém, percebemos que, mais do que relembrar, o que a tradição judaica busca é reviver tempos passados, nos ordenando que saiamos pessoalmente de Mitsrayim a cada Pessach e que recebamos a Torá pessoalmente a cada Shavuot, e assim por diante.

Da mesma forma, mais do que relembrar pessoas tão queridas que partiram em anos passados, o exercício de mantê-los conectados à corrente da vida por meio da memória nos permite vivenciar o tempo, em particular nossos períodos mais sagrados, como se eles ainda estivessem aqui conosco, perceber o impacto que eles continuam tendo em nossas vidas, celebrar suas vidas mesmo quando lamentamos que eles tenham partido.

Que nossos esforços sejam frutíferos e que consigamos sentir sua presença, sua influência e seu impacto a cada dia do novo ano.

 

Rabino Rogério Cukierman