Que neste Izcor de Iom Kipur de 5783, 

Lembremos que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos. Aqueles que verdadeiramente amamos têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. Dizem que o tempo cura tudo, mas não é simples assim. Ele pode acalmar os sentidos, aparar as arestas, colocar um band-aid na dor, mas não mais do que isto.

Recordar os que amamos com o coração em paz é a melhor homenagem para aqueles que já não estão entre nós. Neste Izcor de Iom Kipur de 5783 as nossas preces são dedicadas a todos que já se foram e que deixaram suas marcas nos corações de quem aqui ficou.

Homenagear quem já partiu é manter viva a memória daqueles que nunca desaparecem do nosso pensamento.

A morte encerra uma vida física, não um relacionamento. A morte não é o oposto da vida, mas uma parte dela. Aqueles que amam verdadeiramente, não podem ser separados por ela. A morte não pode matar o que nunca morre. A verdade é que você nunca para de amar alguém, você apenas aprende a viver sem eles. 

Penso que o Izcor de Iom Kipur não deve se caracterizar pela tristeza, mas sim para enaltecer aqueles infindáveis momentos e experiências que juntos passamos; os de alegrias, de festas, de comemorações, de vitórias, de realizações – estas sim são as que celebramos em nossos corações. Esse é o legado que tanto bem nos faz recordar com ternura e saudade.

O Kadish que especialmente neste Izcor recitamos, sendo um belíssimo hino de louvor à vida, nos lembre que a vida física é passageira e que para tudo existe um tempo: semear e colher; nascer, viver, partir e seguir; amanhecer e anoitecer; louvar e agradecer.

E é neste sentido que compartilhamos, todos nós, neste Izcor de Iom Kipur, a dor, a saudade e o sentimento das famílias daqueles que nos deixaram ao longo de 5782, e nossas preces se unem em homenagem àqueles queridos e saudosos que tanto amamos e que, estejam onde estiverem, continuam nos amando, cuidando e inspirando.

Lembrando as palavras de nosso saudoso rabino Henry Sobel: “Se continuarmos amando aqueles que perdemos, jamais perderemos aqueles que amamos! Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós”

Hamakom ienachem etchem betoch shear avelei Tzion v’Ierushalaim

Que Deus vos conforte junto aos enlutados de Tzion e Jerusalém.

 

Sergio Cernea

Coordenador da Chevra Kadisha da CIP