Não nos cabe concluir toda a obra (Pirkei Avót)

Na leitura da Torá dessa semana, Moshé Rebêinu recebe uma das mais tristes notícias de toda a sua vida. Nosso líder descobre que não entraria em Canaã. Morreria sem conhecer a Terra Santa.

 

Moisés nasceu no Egito e dedicou sua vida ao povo judeu. Ainda jovem teve de enfrentar o Faraó e tirar o povo da escravidão. Atravessou o Mar Vermelho. Suportou reclamações no deserto: fome, sede. Desceu o Monte Sinai trazendo as leis para um povo que se curvava a um bezerro de ouro. Caminhou 40 anos no deserto. E depois de tudo isso vem a triste notícia…

 

Quais eram as razões de Deus para uma decisão tão cruel?

 

Moshé, segundo os sábios do Midrásh, havia perdido o jeito de liderar. Um dos principais motivos para seu desânimo teria sido a morte de sua irmã. Miriam tinha sido muito importante para Moshé, desde o momento em que arriscou sua vida para acompanhar o destino da cesta que levava o bebê pelo Rio Nilo. Nosso líder estava abalado emocionalmente.

 

Além disso, Moisés estava pagando por um erro cometido. Quando o povo reclamava por água, Deus instruiu-no a falar com uma rocha que dela brotaria água potável. Ao invés de falar, Moisés feriu a rocha com seu cajado, como se não bastasse fez pela segunda vez. Errar é humano, mas insistir intencionalmente no erro é proibido pela Torá. Como esse, Moisés havia cometido inúmeros erros, porém neste reincidiu. Cometeu duas vezes, e por isso Deus resolve castigá-lo.

 

Ao contrário do que poderíamos imaginar, Moisés se despediu do povo com dignidade e não se arrependeu de ter dedicado a vida à chegada de uma terra que nunca alcançaria.

 

Na nossa vida, estamos  constantemente construindo. Não sabemos quanto tempo vamos viver e de quais projetos desfrutaremos, mas isso não impede o nosso trabalho. O nosso lema é continuidade.

 

Quando nascemos, já encontramos muitas facilidades, muitas coisas já haviam sido feitas pelos nossos pais e avós. Não temos o direito de interromper essa corrente.

      Como ensina a Ética dos Pais: “Não precisamos concluir toda a obra, ao mesmo tempo, não podemos nos furtar de produzir o máximo possível”. 

 

Moisés nos ensinou a viver intensamente cada momento. Que possamos ter foças até os 120 anos (como ele viveu) para colher nosso próprios frutos e que plantemos um excedente para garantir um futuro para nossos filhos e filhas, netos e netas.

 

Shabat Shalom !

Rabino Michel Schlesinger, de Londres