E Deus disse a Moshé: está se aproximando a hora de sua morte. O midrash nos diz que nesse dia ele escreveu treze rolos da Torá. Um para cada uma das doze tribos, e uma para ser colocada junto com a Arca da Aliança, porque assim quando alguém começasse a se desviar do caminho poderiam abri-la e rever o caminho a ser seguido.
 
Logo antes de receber a notícia da prontidão de sua morte, a Torá realmente nos conta que Moshé escreveu “a Torá” e a entregou aos sacerdotes para que a guardassem na Arca Sagrada.
 
Por que será que isso era o mais importante que tinha para fazer nesses momentos finais de sua vida?
 
Porque queria garantir seu legado. Não é a toa que existe a expressão de que todos devemos “plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro” antes da nossa morte. Da descendência biológica de Moshé sabemos pouco, mas é nesta mesma parashá que vai se confirmar que seu herdeiro da liderança será Ieoshua, que vem acompanhando seu trabalho há muitos anos.
 
A plantação deve ser também interpretada. Pode até ser que Moshé tenha plantado alguma árvore durante sua vida. Mas a semente que ele plantou no coração de cada um do povo que o acompanhou durante a travessia do deserto do Egito até a Terra Prometida é inegável. O trabalho ao qual se dedicou durante anos para transformar um povo escravo em um povo livre foi tão árduo quanto o de plantar e cultivar uma árvore. Moshé não verá seus frutos na Terra de Israel, mas já enxerga as raízes se aprofundando.
 
Talvez em relação ao livro Moshé tenha sido literal. Apesar de já ter escrito, conjuntamente com Deus as tábuas (as segundas) da lei, esse será “SEU” livro. Portanto, quando Deus lhe comanda “escrever esse poema, ensiná-lo aos filhos de Israel e colocá-lo em suas bocas”, Deus está pedindo que transmita toda a história. Para que a própria história possa ser um personagem, que nos lembra, ano após ano, dos acertos e erros do passado para podermos garantir que seguiremos em frente com os ensinamentos da Torá e de nossa tradição.
 
Este é o último Shabat de 5777. O mês de Elul, o último do ano, nos convida a rever nossas ações. Tanto aquelas que devemos corrigir para o ano que entrará, como aquelas que foram tão boas que devemos nos esforçar para manter. Dificilmente vamos “plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro” todos os anos, mas será que estamos nos encaminhando para isso? Vamos incluir em nosso Cheshbon Hanefesh (balanço da alma) a busca pelas histórias e legados que estamos deixando para nossa família, nossa comunidade e nosso mundo.
 
Que possamos escrever e ser inscritos no Livro da Vida!
 
Shabat Shalom e Shaná Tová.
Fernanda Tomchinsky-Galanternik