Você não deve ter em seu bolso duas pedras, uma grande e outra pequena. Não deve ter em sua casa duas ‘efót’, uma ‘efá’ grande e outra pequena. Peso perfeito e justo você deve ter; uma ‘efá’ perfeita e justa você deve ter – para que se prolonguem seus dias sobre a Terra que o Eterno Deus lhe dá. Pois Ele abomina a prática da falsidade” (Dt 25:13-16).

A parashá Ki Tetsê destaca as mitsvót éticas e de honestidade com relação aos outros. A Torá nos instrui não enganar nem prejudicar nossos semelhantes, nem no julgamento (Dt 24:17), nem em qualquer outra relação social – seja de comércio, seja de prestação de serviços, seja na remuneração de serviços prestados.

Moshé repete nessa parashá as mesmas leis que já apareciam nos capítulos 18 e 19 do livro de Vaicrá (Levítico), onde lemos: “Balanças justas, pedras justas, ‘efá’ justa e ‘hin’ justo vocês devem ter” (Lv 19:36).

No decorrer de vários séculos, inúmeros dos nossos comentaristas explicaram que a palavra “pedras” se refere a “pesos”, enquanto os termos “efá” e “hin” se referem a “medidas”.

Em português claro, a Lei de Moisés nos orienta a não usarmos “dois pesos e duas medidas”. Não podemos vender 800g dizendo tratar-se de 1kg; não devemos vender 1,20 metro de tecido dizendo tratar-se de 1,50 metro. E é isso o que significa a expressão “dois pesos e duas medidas”: não devemos tirar vantagem dos clientes, mas também não podemos tirar vantagem do vendedor.

Quando utilizamos dois pesos e duas medidas e apoiamos aqueles que fazem o mesmo, nós estimulamos esse sistema, fazendo-o crescer e se fortalecer. Um sistema em que prejudicar o próximo passa a ser a regra, e levar vantagem sobre os demais é a palavra de ordem. Um sistema em que a “Lei de Gerson” toma o lugar da “Lei de Moisés”.

E por isso mesmo é que a balança é associada ao julgamento e à justiça nas mais diversas culturas – inclusive no judaísmo, como vemos na parashá: “Peso perfeito e justo (…) ‘efá’ perfeita e justa você deve ter” (Dt 25:15).

E assim seguimos no mês de Elul, época de fazer nosso eshbón néfesh, preparando-nos para o Yom haDin (o Dia do Julgamento) de Rosh haShaná e para o Yom Kipur (o Dia da Absolvição). Lembremos que, segundo nossa tradição, o perdão de nossas transgressões não é automático, ao contrário, ele depende do balanço que fazemos em Elul, do acerto de contas que fazemos com aqueles a quem prejudicamos e por quem fomos prejudicados e, acima de tudo, depende de nosso compromisso conosco mesmos de seguirmos em um caminho de retidão e justiça, de ética e honestidade.

Que olhemos para dentro de nós mesmos, façamos o balanço de nossas ações, e não utilizemos dois pesos e duas medidas ao fazê-lo, “para que se prolonguem [nossos] dias sobre a Terra” (Dt 25:15).

 

Shabat shalom,

Rabino Theo Hotz