—  “Que tiene yo de esto?” — era a pergunta que minha avó paterna costumava colocar diante do que era contado a ela. 

Sobrevivente da Shoá, de migrações, choques e pontes multiculturais, mulher simples e muito focada no essencial e vital, no seu mau espanhol, queria dizer: “o que isso me ensina? O que isso me acrescenta?”. Provavelmente indicava a necessidade de se entrar sempre no relevante, no que importa, no que realmente vale e permite algum crescimento em alguma direção. (Talvez supunha que tudo tivesse algo valioso, mas com certeza afirmava que tudo tem, também, acessórios desprezíveis).

O personagem central da parashá da semana é José, cujo nome em hebraico, Yossef, significa “agregará”, “acrescentará”, “sumará”. De fato, Yossef claramente é um personagem carismático, que faz grandes diferenças para todos os que estão à sua volta, os quais as captam rapidamente e querem ficar por perto lhe confiando tudo.

Potifar, que o compra como escravo, o nomeia chefe de sua casa e deixa tudo em suas mãos. A esposa de Potifar se entrega a ele inteira. Os colegas de cela, na prisão, depositam nele seus sonhos para que ele os elucide. E assim, também, o faraó que acaba nomeando Yossef seu vice.

Qual é o segredo de Yossef? 

A literalidade do texto diz simplesmente que tudo que Yossef realiza, Deus faz com que seja exitoso. Entretanto, uma leitura mais humanizadora e demorada do texto nos permite “ter”, na linguagem de minha avó, algo mais apreensível e aplicável que os milagres da literalidade.

Três características surgem dessa leitura mais atenta, demorada e crítica deste momento da vida de Yossef: ele tem experiência em ter e carecer, sabe sonhar e sabe escutar com atenção e humildade empática os sonhos dos outros. Talvez esse seja o resumo do significado figurativo e poético das luzes de Chanucá, que acendemos em nossas casas e colocamos nas janelas para compartilhar e receber as dos demais.

Todos temos e carecemos, ganhamos e perdemos, guardamos e deixamos. Todos sonhamos. Que possamos ter abertura para os sonhos dos demais e para sua relação com os próprios percursos, a fim de que possamos ver e mostrar com clareza qual é a contribuição única de cada um.

 

Shabat shalom e chag sameach!

Rabino Ruben Sternschein