A era das comunicações não necessariamente nos deixou mais ou melhor comunicados. Embora tenhamos mais acesso a informações “objetivas”, jornalísticas ou enciclopédicas, muitas vezes perdemos o principal no ato de “entrarmos em contato”.  A comunicação por meio de mensagens limita a espontaneidade que muitas vezes traz mais verdades do que o texto corrigido. A cultura do chat exige um estilo muito objetivo e sucinto. Muitos chats começam e acabam sem saudações e muitas saudações sem resposta. Principalmente, a cultura do chat exige ter uma mensagem específica para passar. 

Esses padrões de comunicação contribuem com a agilidade e a eficiência, mas perdem muitas vezes a profundidade do vínculo e do que realmente se passa no indivíduo.

Muitas vezes nos comunicamos sem a intenção de dizer algo específico, apenas para estar junto, nos fazermos presentes, perceber e receber o outro. A conversa e até o silêncio são meras desculpas e ferramentas. 

Quem não passou longos minutos com pessoas queridas que não via há muito tempo falando apenas da comida do avião, do clima, de política ou de futebol? E não por falta de assunto, apenas pela vontade de estar e ser com o outro.

A parashá da semana se chama “diga” e é famosa pela menção das cinco festas da Torá: Pêssach, Shavuót, Sucót, Rosh HaShaná e Iom Kipur. A menção a essas festas aparece em outros livros do pentateuco, mas somente aqui volta uma e outra vez a expressão “micraei codesh”, convocação sagrada. Não é a festa, nem sua história, nem seu ritual o que propicia a santidade. É a convocação. A chamada. A intenção de se conectar para estar e ser no encontro conjunto. Não é o que se comunica, e sim a comunicação em si a que se procura.

Na era das comunicações gostaria de nos desejar que possamos desenvolver a mais profunda e verdadeira intenção de nos comunicarmos, de trazer e receber o máximo e melhor de nós e dos que estão à volta, além do conteúdo específico das mensagens transmitidas.

 

Shabat Shalom,

Rabino dr. Ruben Sternschein