Uma das discussões clássicas de nossos tempos é a autenticidade das redes sociais. Em que medida o que se vê é o que é e qual seu impacto. Nas redes sociais geralmente mostramos imagens positivas, em momentos bons, de lazer. Algumas vezes as fotos inclusive são “melhoradas” com a ajuda de filtros e outros recursos que a tecnologia oferece, para que os protagonistas pareçam mais jovens, saudáveis, felizes e coloridos. Quando se trata de mostrar inimigos ou rivais, o uso é o inverso: buscam-se as piores expressões e usam-se os filtros e outros recursos para prejudicar ainda mais a imagem do que a realidade verdadeira oferece.

O impacto das mídias é tal que mais e mais parece que o que não é divulgado não acontece, e quando é postado e publicizado acontece ainda mais, uma e outra vez com cada clique. Se uma filosofia dizia no passado que “ser” significa “ser pensado por alguém”, então estamos na época na qual “ser” é “ser fotografado ou filmado e postado”. 

Embora haja alguma verdade no que se posta, é claro que o que não se posta é muito mais verdadeiro. Porque não convém, o tempo não é suficiente, não é possível postá-lo ou apenas porque não queremos postá-lo. Embora a foto possa captar e mostrar detalhes que o olho e a memória humanos perdem, ela não consegue reproduzir profundezas e sutilezas que se passam dentro, em mais tempo e complexidade do que as mídias toleram. 

Se formos nos treinar para viver na premissa de que só existe o que se posta, testemunharemos uma vida muito reduzida, com pouca verdade e pouca sofisticação profunda.

Na leitura da Torá de Chol HaMôed de Sucot, como na de Pêssach, Moisés formula perguntas teológicas e obtém respostas enigmáticas. Moisés diz: “mostra-me tua glória” e “ensina-me teus caminhos”. Deus responde: “não poderás ver meu rosto” e derramarei meu e passarei e  verás minhas costas”.

Maimônides  sugeriu que se trata de dois diálogos. 

No primeiro Moisés pede para ver o rosto, a imagem, e Deus se nega. No segundo, pede para ver o modo de agir divino, a forma de caminhar e o resultado desse andar, e lhe é concedido. Dito de outro modo: a teologia em si é desencorajada a menos que seja com fins éticos, de aperfeiçoamento real.

Em outras palavras: a aparência divina, a foto de Deus não interessa e até poderia ser enganosa, reducionista, preconceituosa. A ação, o modo como se conduz, é o que traz verdade, profundidade e transformação.

A Sucá também tem uma aparência pobre, que revela a fugacidade de nossa vida e de nossas liberdades, mas seu interior pode ser rico, significativo e feliz.

Que tenhamos um “fora” saudável e sustentável, mas não vazio e excludente de uma essência interna real, profunda e significativa. Em tudo. 

Chag Sameach, Shabat Shalom,

Rabino Ruben Sternschein