Seis dias após 9 de Av, a tradição fixou a talvez menos famosa data de Tu BeAv (15 de Av), conhecido como dia do amor. Na Mishná, rabán Shimón ben Gamliel afirma que “não há dias mais alegres no ano que o 15 de Av e o Iom Kipur” (Taanít, 4).

Este dia quente de verão marcava o início da colheita de uvas, que seguia até as vésperas de Iom Kipur. Segundo a Mishná, neste dia as jovens de Jerusalém se vestiam de branco e saíam para dançar nos vinhedos, num ritual cujo objetivo era a formação de novos casais.

É a vida que segue. Apesar da gravidade do dia 9 de Av, nós somos convidados a nos renovar e exaltar a pujante energia vital que existe em nós. O dia 15 de Av nos desperta para o fato de que as tristezas não ficarão para sempre. É o primeiro passo em direção aos degraus espirituais que começamos a subir em direção ao novo ano que se aproxima.

“Nachamú, nachamú amí – iomár Elohechém” – “Seja consolado Meu povo – diz o Eterno”. Com essas palavras, a haftará do profeta Isaías nos convida a subir no primeiro de sete degraus entre 9 de Av e Rosh HaShaná: sete shabatót separam essas duas datas, época propícia para aguçarmos nossa espiritualidade, exercitarmos nossa compaixão e aprimorarmo-nos como seres humanos.

Após a destruição de Jerusalém em 70 e.c., a voz do profeta passou a ecoar através dos milênios com uma força cada vez maior, preenchendo a alma judaica com uma mensagem de esperança: por maiores que tenham sido nossas transgressões, seremos perdoados. Por maior que seja nosso exílio, ainda retornaremos à nossa terra. Por mais que o mundo pareça inóspito, ainda veremos a humanidade transformada para o bem e para o melhor.

Uma semana após meditar sobre os acontecimentos que pareceram ser o fim do mundo para nossos antepassados, após meditar sobre a enorme ferida aberta na História Judaica, nós somos convidados a acreditar que isso também passará – gám zé iaavór – e essa ferida também cicatrizará. A vida continua e a renovação se aproxima, sob o pseudônimo de “ano novo”.

Em 9 de Av lembramos como o sinát chinám (ódio gratuito) levou à destruição de Jerusalém. Em 15 de Av somos convidados ao amor. Que o amor gratuito (ahavát chinám) seja nossa principal ferramenta para a pavimentação da estrada rumo à redenção sobre a qual Isaías fala. E se não virmos a redenção e a transformação da humanidade ainda em nossos dias, que saibamos contribuir positivamente para o aprimoramento do mundo, através do ahavát chinám.

 

Shabat Shalom,

Moré Theo Hotz