A parashat Kedoshim se encontra no coração do livro de Levítico. Esse livro, chamado em português de “Levítico” devido às leis sacerdotais que são seu tema central, nos apresenta também ao tema da santidade por meio de regras e preceitos religiosos.
No começo da parashá desta semana, vemos o versículo: “Fale a toda a comunidade israelita e lhes diga: vocês serão santos, porque Eu, o Eterno seu Deus, sou Santo” (Lev 19:2).
Existem pelo menos três coisas relevantes nesse versículo. A primeira é que Moshé fala a “toda a comunidade israelita”; a segunda é que todo o povo é chamado a ser “santo”; e a terceira é que a razão para a santidade é que Adonai é nosso Deus, e Ele (ou Ela) é “Santo”.
“Toda a comunidade israelita”: não é em todos os casos que Deus pede a Moshé que fale com a comunidade toda. Às vezes fala com Moshé e Aaron, às vezes pede que fale aos anciãos. Poucas vezes o chamado é para a comunidade toda. Neste caso em particular, o chamado à santidade não se limita aos Cohanim e Levim, castas sacerdotais: todo o povo de Israel deve escutar e receber esses presentes de primeira mão, o primeiro dos quais sendo “serão santos”. O chamado à comunidade toda é um chamado no plural que fala a cada um em particular. Nesse sentido, é um convite ao povo inteiro como povo, e a cada indivíduo também, agregando à ideia de responsabilidade coletiva e de unidade.
“Vocês serão santos”: é importante prestar atenção ao tempo verbal, futuro. O povo ainda não é santo, mas pode tornar-se santo. É um desafio, uma proposta — existe o potencial, mas ainda não se trata de um fato consumado. A santidade, às vezes interpretada como uma limitação, também é uma proposta de uma vida de valores, de sentido, de proximidade a Deus e aos seres humanos, com respeito, empatia e reconhecimento. Aproximar-se da santidade tem a ver com o nosso desejo, com aquelas coisas que devemos afastar de nós mesmos e com aquelas coisas das quais podemos e devemos nos aproximar. Kedushá, a santidade, tem a ver com separar, definir, distinguir e escolher aquilo que nos ajuda a ascender, a melhorar, a nos diferenciar com humildade.
“Porque Eu, o Eterno seu Deus, sou Santo”: reconhecer a santidade de nosso Deus e sua unicidade é o que nos levará à nossa própria santidade. Na minha opinião, esse pasuk (versículo) nos convida, nos chama a entender o mundo a partir da visão de completude e de unicidade. Um chamado à humildade e ao reconhecimento de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus, com um potencial imenso de bondade, de empatia, de amor e de compromisso com sua criação. Se Deus é santo e é único, e o mundo é sua criação e os seres humanos são a coroação dessa criação, devemos reconhecer que tudo e todos somos um. A santidade é intrínseca à nossa existência, às nossas escolhas, a nossos limites e aos nossos sonhos.
Cada um de nós traz essas perguntas, que são o que é essa santidade que procuramos, em que âmbitos de nossa vida a tornamos presente, e como podemos trazer mais dessa santidade a este mundo.
Que este seja um shabat de busca, que sejamos capazes não somente de nos perguntarmos o que é santo para nós e de que maneiras trazemos santidade às nossas vidas, mas também de levar essa santidade à ação como indivíduos, como comunidade, em sociedade e como povo.
Shabat Shalom,
Rabina Tati Schagas