Uma visão judaica do amor

ve’ahavtá et Adonai Elohêcha, be’chól levavchá….”

Só de pensar nestas palavras – que, assim como primeira frase do Sh’má, estão na parashá desta semana – eu já consigo escutar nossa comunidade declarando-as conjuntamente, no ritmo cadenciado como fazemos em todo Cabalát Shabat. Palavras que sabemos de cor e que, por isso, conseguimos recitar sem abrir os olhos depois de tê-los fechado para a afirmação do Sh’má. O que elas querem dizer de verdade? Neste shabat, em que lemos sobre a obrigação de “amar a Deus com todo o nosso coração” e no qual comemoraremos juntos Tu beAv, o dia no calendário judaico para a comemoração do amor, parece ser especialmente importante nos perguntarmos qual a concepção judaica do amor.

Além de amar a Deus, somos instruídos pela Torá a desenvolver o amor em duas outras situações: amar o estrangeiro pois também fomos estrangeiros no Egito (Deut. 10:19) e amar o próximo como a nós mesmos (Lev. 19:18). Lido nestes contextos, o conceito bíblico de “amor” está profundamente relacionado com o sentimento de “empatia”, com a capacidade de nos relacionarmos com a realidade vivida por outra pessoa, nos solidarizarmos com suas dores e festejarmos suas conquistas.

Nas cerimônias de Tishá beAv da semana passada nos lembramos que, segundo a tradição judaica, foi “sinat chinám”, o “ódio infundado”, que deu origem às tragédias relacionadas àquela data. Em resposta ao ódio infundado, a parashá desta semana fala em “amar a Deus com todo o seu coração”, um convite para desenvolvermos “ahavat chinám”,a “empatia ilimitada”, a capacidade de enxergar a fagulha divina em todo ser humano e lhe atribuir, de fato, sua dignidade inalienável sem que qualquer outro motivo seja necessário.

Neste shabat em que o amor dá o tom, que consigamos desenvolver a empatia profunda que une nossas almas a todas as outras e reconhecer a imagem divina em toda pessoa.

Shabat Shalom!
rabino Rogério Cukierman