Parashá Vaiechi – Responsabilidade coletiva

 
Com as últimas palavras do livro de Bereshit, chegamos ao final de uma era. O primeiro livro da Torá teve seu foco na criação do mundo, da humanidade e especialmente nas origens do povo judeu através da família dos patriarcas.
 
Os primeiros passos já vão sendo dados em direção ao que em breve será um povo. A sucessão será diferente. Avraham e Itshak tiveram mais de um filho (Avraham teve a Ishmael e a Itshak, este teve Essav e Iaacov), mas somente um deles seguia os caminhos “esperados e corretos”, e, portanto apenas um herdou o “legado judaico”. Iaacov teve doze filhos (homens, além de Dina) e todos terão uma participação no futuro do povo.
 
Apesar do grande foco em Iossef nas últimas quatro parashiot do livro de Bereshit, ele não será o único a representar a descendência de Avraham. Todos os seus irmãos, por mais acertos ou erros que tenham cometido em suas vidas, serão essenciais para a próxima etapa da história da (futura) nação.
 
Assim como foi com seu pai, quando Iaacov/Israel vê que estão se aproximando os últimos dias de sua vida decide abençoar seus filhos. No seu passado, ele havia roubado a benção que seu pai Itshak deveria dar a seu irmão (mais velho, apesar de gêmeo). Se existe algum personagem que realmente entende o poder da benção final do pai é Iaacov.
 
O grande patriarca se prepara para abençoar todos os seus filhos. Relembrando a lógica, o primogênito era quem realmente era abençoado, quem recebia as terras. Os outros filhos recebiam porções menores. No episódio em que a benção de Essav é roubada, ele questiona o pai “se não tinha sobrado nenhuma brachá para ele”.
 
Iaacov sabendo do poder dessas palavras decide “abençoar”, também, aqueles filhos que tiveram desvios de conduta, apesar de fazê-lo de forma bastante agressiva. Mas mesmo assim os abençoou.
 
Garantiu assim que todos os filhos se mantivessem no pacto. A partir do próximo livro, a família se tornará um povo. Um povo tão numeroso que assustará os Egípcios. E os doze filhos se transformarão em doze tribos.
 
A chave foram as múltiplas bênçãos. Iaacov já havia entendido várias coisas até esse momento, especialmente que não poderia privilegiar um único filho. Sofreu por muitos anos pelo ódio que ajudou a gerar entre todos os seus filhos e seu preferido, Iossef.
 
Iaacov também entende que para que a promessa feita aos seus antepassados, de chegar a uma família numerosa como estrelas do céu e areia da praia, acontecessem seriam necessários muitos protagonistas.
 
Depois dessa era, teremos os chefes de tribos, mas nenhum com tamanha importância. A importância agora se transladou para cada um. Cada um de dentro das tribos, cada um do grande povo, até os dias de hoje.
 
Nós, herdeiros dessa geração de patriarcas, dessa geração de doze tribos, somos, cada um, responsáveis por seguir adiante o “legado judaico”. Não podemos deixar essa responsabilidade recair em poucas pessoas. O fim da era familiar nos deu a todos a responsabilidade e o privilégio de sermos parte indispensável da tradição.
 
Shabat Shalom!
Rabina Fernanda