A Parashat Itró é rica em momentos cruciais na história judaica, mais notavelmente a entrega dos Dez Mandamentos no Monte Sinai. No entanto, antes deste evento monumental, encontramos uma narrativa frequentemente esquecida com profunda relevância moderna. Itró, sogro de Moshé, aconselha o maior líder de nossa história justamente sobre seu papel como líder.

Itró observa Moshé julgando sozinho, o dia inteiro, todas as disputas que aparecem entre os israelitas. Reconhecendo a natureza insustentável desta abordagem, Itró oferece conselhos práticos: “O que você está fazendo não é bom. Você certamente se desgastará, você e estas pessoas com você, pois a tarefa é muito pesada para você; você não pode fazê-la sozinho” (Shemot18:17-18).

Esta interação ressoa profundamente em nossas vidas contemporâneas, particularmente em uma era que glorifica a ocupação e a autossuficiência. Muitos de nós lidamos com a pressão para gerenciar responsabilidades esmagadoras — seja em nossas funções profissionais, obrigações familiares ou compromissos comunitários — muitas vezes às custas do nosso bem-estar. A narrativa cultural frequentemente iguala produtividade com valor pessoal, levando ao esgotamento e exaustão emocional.

A sabedoria de Itró desafia essa mentalidade ao enfatizar a importância da delegação e da liderança compartilhada. Ele aconselha Moshé a nomear indivíduos capazes para supervisionar grupos menores, reservando apenas as questões mais complexas para si mesmo. Este modelo não apenas alivia o fardo de Moshé, mas também capacita outros a assumir papéis significativos, promovendo uma comunidade mais resiliente e engajada.

A lição aqui é dupla. Primeiro, nos lembra de nossas limitações humanas. Mesmo Moshé, o maior profeta da tradição judaica, não poderia fazer tudo sozinho. Reconhecer nossos limites não é um sinal de fraqueza, mas um reconhecimento de nossa humanidade. Segundo, destaca o valor da confiança e da colaboração. Ao delegar, não apenas aliviamos nossa própria carga, mas também criamos oportunidades para que outros cresçam e contribuam.

Aplicar o conselho de Itró em nossas vidas envolve uma mudança tanto na mentalidade quanto na prática. Exige que superemos a crença de que a autoestima está vinculada a fazer tudo sozinhos. Em vez disso, devemos cultivar ambientes — seja no trabalho, em casa ou em nossas comunidades — onde as responsabilidades são compartilhadas e as contribuições de todos são valorizadas.

Além disso, esse ensinamento fala a líderes em todas as capacidades. Liderança eficaz não é manter o controle sobre cada detalhe, mas sim orientar, apoiar e confiar que outros liderarão ao nosso lado. Essa abordagem promove uma cultura de respeito mútuo, desenvolvimento e sustentabilidade.

Em um sentido mais amplo, o conselho de Itró também aborda a importância de buscar e aceitar conselhos. Moshé, apesar de sua estatura, ouve Itró com humildade e implementa suas sugestões. Essa abertura a perspectivas externas pode ser transformadora, oferecendo insights que podemos ignorar quando estamos muito próximos de um problema.

Ao refletirmos sobre Parashat Itró, vamos internalizar essas lições ancestrais. Ao reconhecer nossas limitações, abraçar a colaboração e valorizar a sabedoria dos outros, não apenas melhoramos nosso bem-estar pessoal, mas também fortalecemos nossas comunidades. Que possamos encontrar a coragem de delegar, a humildade de buscar conselhos e a sabedoria de liderar com força e vulnerabilidade.

 

Shabat shalom,

Rav Natan Freller

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