O judaísmo é uma religião que valoriza muito mais a ação do que o pensamento. A filosofia se desenvolveu em uma época relativamente tarde da história judaica. O primeiro filósofo do judaísmo foi Filo que viveu em Alexandria nos primeiros anos da Era comum, ou seja, depois de três mil anos de história judaica.

 

Outras religiões valorizaram muito mais o pensamento filosófico do que o judaísmo. Perguntas sobre a origem de Deus e sua natureza. Questionamentos sobre a vida após a morte e reencarnação estão presentes na literatura judaica, mas são marginais quando comparados à quantidade de obras produzidas sobre ética e comportamento.

 

Pode-se afirmar, sem medo de errar, que o judaísmo se preocupa pouco com aquilo que o indivíduo pensa e muito com o que ele faz. Provavelmente, exatamente por isto, existem debates ricos e conflitantes nas áreas teóricas da religião judaica sem a necessidade de uma padronização. É legítimo pensar diferente e, às vezes, muito diferente, desde que esse pensamento nos conduza a fazer o bem.

 

Kedoshim, a parashá dessa semana ao lado de Acharê Mot, é um tratado de como ajudar o outro. A leitura traz uma série de leis sociais que devem ser praticadas para que nos tornemos kedoshim, sagrados. No judaísmo é a ação que nos confere a santidade. O status de homens e mulheres sagrados não acontece com o nascimento nesta ou naquela casta, mas na atitude que escolhemos ter na vida.

 

Durante a contagem do Ômer, este período de 49 dias que separa as festas de Pêssach e Shavuót, refletimos sobre esta ponte que liga os conceitos de liberdade e lei. Pêssach é a festa da libertação, podemos comparar a saída do Egito com o pensamento, a teoria, que são extremamente livres e comportam inúmeras construções abstratas. No entanto, o êxodo somente se concretiza em Shavuót, a festa da lei, do comportamento, a festa que celebra nosso compromisso com Deus e com a sociedade.

 

O pensamento é muito importante desde que nos conduza a fazer aquilo que é correto.

 

Que possamos nos inspirar no Ômer, na capacidade de pensar livremente, mas agirmos de forma comprometida com o bem, o correto, o ético. Que nos tornemos Kedoshim por meio de nosso compromisso com a sociedade.

 
 

Shabat Shalom.
Rabino Michel Schlesinge
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