A parashá desta semana começa com a morte da nossa matriarca Sará. “E foi a vida de Sará cento e vinte e sete anos; estes foram os anos da vida de Sará. E Sará morreu em Kiriat-Arba, que é Chevron, na terra de Cnaan; e veio Avraham lamentar Sará e chorar por ela.” (Gên 23:1,2) O midrash conta que Sará morreu de tristeza quando ouviu a notícia do “sacrifício” de Itschac. Avraham chega a Kiriat-Arba, sem seu filho, para enterrar a companheira de sua vida, aquela que esteve a seu lado desde o começo, que lhe salvou em várias ocasiões e lhe deu, já em velhice, a descendência que Deus havia prometido. Apesar de receber o nome de Sará, esta parashá nos oferece uma excelente oportunidade de olharmos para a vida do patriarca Avraham.
É difícil imaginar o estado emocional em que Avraham se encontrava. Depois de quase sacrificar seu filho, os caminhos de Avraham e Itschac se separam. Avraham volta a Beersheva com seus servos e recebe a notícia da morte de sua esposa. Avraham, a quem foi prometido “te abençoarei e multiplicarei muito a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia que está na praia do mar; e os teus descendentes possuirão os portões dos seus inimigos. E através dos teus descendentes serão benditas todas as nações da terra, pois obedeceste à minha voz” (Gên 22:16-18), se encontra só: perdeu sua mulher e se afastou de seus filhos.
Diante de tal adversidade, Avraham se levanta e age: compra o primeiro terreno para sepultura da história de nosso povo — meharat hamachpelá, a caverna de Machpelá — para o descanso eterno de Sará. Em seguida, Avraham se vira para seu servo mais antigo e o faz jurar pelo Eterno que irá à terra de sua família, para lá tomar uma mulher para Itschac. O cerne desta parashá é o encontro de Itschac e Rivcá, o começo da segunda geração desta família, a promessa de continuidade.
Avraham, nosso pai, morre ao final desta parashá, depois de se casar novamente e ter mais seis filhos. Avraham será sepultado por seus filhos Ishmael e Itschac junto a Sará.
Apesar de estar escrito nesta parashá que Avraham foi “abençoado com tudo”, a vida de nosso patriarca não foi fácil: os desafios, dificuldades e adversidades foram muitos. Avraham, no entanto, não perdeu sua fé, mas tampouco se conformou somente com ela. Ele foi uma pessoa de ação, de movimento, que soube olhar para a frente e superar os desafios.
Que sejamos nós, também, capazes de encontrar novos caminhos diante da adversidade, que a dor e a perda não nos desmoronem, que a fé em Deus e no futuro nos dêem força para agir e construir. Que sejamos abençoados e possamos ver uma nova geração do nosso povo crescer, fortalecer-se e continuar o legado e os valores da nossa tradição.
Shabat Shalom,
Rabina Tati Schagas