A história de Balac e Bilam, contada nesta semana pela Torá, descreve diversas passagens mágicas. Benção e maldições, um anjo invisível e até uma mula que fala. Penso ser esta uma boa oportunidade para revisitar o conceito de magia em geral e pesquisar a importância da mágica em nossas vidas, em particular.
 
Deus é o maior mago do universo. Sua biografia começa com uma sequência de truques fenomenais. No primeiro dia, o céu e a terra, a luz e a escuridão, o dia e a noite; no quarto dia o sol, a lua e as estrelas. No sexto dia, veio o grand finale de seu maior espetáculo: Deus criou o homem e a mulher. Os encantamentos não pararam por aí. Chuva de quarenta dias, arco-íris, bagunça de idiomas, estátua de sal, pragas, abertura de mar, comida que vem do céu, água que sai da pedra, para citar apenas alguns.
 
Segundo Avraham Iehoshua Heschel, nosso maior desafio é se encantar com a vida e manter este encantamento sempre vivo. A raiz da religião é, para o rabino Heschel, a pergunta do que devemos fazer com nosso senso de encantamento. Assim escreveu o filósofo contemporâneo: “Quando estamos em dúvida, levantamos perguntas, quando estamos maravilhados, não sabemos como elaborar perguntas. Dúvidas podem ser resolvidas, o encantamento nunca pode ser apagado” (Man is Not Alone, p. 13).
 
Dizemos na reza: “hamechadesh betuvô col iom tamid maassê bereshit” (Deus renova com sua bondade, todos os dias, a criação do universo). E como Ele faz isto? Por meio do nosso potencial de fazer o bem. Fazemos “ocus pócus” cada vez que ajudamos alguém. Um abraço carinhoso é um “sinsalabim”. Deixar alguém realmente feliz é um enorme “abre-te, Sésamo”.
 
A maior das magias não está em um mundo distante, não foi revelada para um grupo seleto de místicos, não pertence a alguns poucos alquimistas. Que possamos nos maravilhar com o maior “abracadabra” do universo: a vida.
 
 
Shabat Shalom.
Rabino Michel Schlesinger