Vantagens da imperfeição

Quando terminei o ensino médio, tive que escolher um professor para me entregar o diploma no ato de formatura, porém, minha escolha gerou alguns ruídos. A professora Alfandari era a menos conhecida e tinha participado apenas de um semestre, dos longos cinco anos de nossa formação. E apenas como substituta.

Minha razão era clara e curta: ela foi a única professora que não duvidava, nem temia dizer “não sei” quando algum questionamento ultrapassava seus limites, pesquisava e trazia a resposta na aula seguinte.

Sempre preferi também os médicos, que como a professora Alfandari, reconheciam dúvidas, erros, especulações e opções diversas ao invés de manter uma firme assertividade quando há espaços para incertezas.

A parasha da semana detalha todos os casos de oferendas que eram trazidas pelos indivíduos que erravam, encabeçando-as com a palavra potencial “se”. Com uma exceção: o caso dos líderes. Nesse contexto a palavra usada é “quando errarem”, ao invés de “se errarem”.

Alguns sábios corajosos de épocas diversas, acharam nesta diferença a insinuação a que o poder corrompe e justamente os mais poderosos têm mais possibilidade de errar. Segundo eles, justamente por isso será mais importante ainda que estejam preparados para assumir seus erros, pública e transparentemente a fim de servir de exemplo para seus liderados.

O rabino Iochanan Ben Zakay disse no Talmud: “feliz o povo cujos líderes assumem clara e ostensivamente, inclusive, as faltas cometidas involuntária e ingenuamente”. Ou seja, a felicidade de um povo não estaria em ter um líder infalível, uma vez que ele não existe, e sim em ter líderes dispostos a assumir com dignidade os erros e corrigir. Que ensinem a agir desse modo.

Rabinos contemporâneos sugerem que também os liderados têm uma responsabilidade neste sentido. São os povos os que desenvolvem as culturas e os valores políticos, criando maior ou menor espaço para o erro e o arrependimento. Povos que esperam perfeição de seus líderes, que acabam com quem errar, poderiam ter menos possibilidade de gerar um líder honesto e transparente.

Que possamos promover e prezar a humildade necessária para termos lideranças humanas, honestas e dispostas ao constante aprimoramento.

 

Rabino Dr. Ruben Sternschein