Assim como os demais povos, os judeus têm os seus rituais de passagem. Quando falamos nesses rituais, normalmente nos referimos à circuncisão ou ao Bat Mitsvá, o casamento ou o luto.
Existem, no entanto, pequenos rituais de passagem que acontecem todos os dias. Dormir e acordar também são passagens marcadas no judaísmo por rituais. Antes de dormir, costumamos dizer o Shemá Israel ao confiarmos nossas almas a Deus. Pela manhã, agradecemos ao Criador do Universo por ele nos ter devolvido nossa alma com um ritual que inclui a recitação do Modê Ani e a lavagem de nossas mãos.
Os costumes associados ao mês de Elul, que começa na próxima semana, também o transformaram em um ritual de passagem. No decorrer do mês, ouvimos diariamente os toques do shofar e enviamos cartões de Rosh HaShaná. Afinal de contas, um ano está quase terminando e o novo ainda não começou. Elul marca a passagem entre o velho e o novo. O último mês do calendário judaico prepara nossas almas para os dias mais intensos e solenes da nossa tradição.
Moisés ficou quarenta dias no monte Sinai para receber as segundas Tábuas da Lei depois do pecado do Bezerro de Ouro. Segundo nossa tradição, esses quarenta dias foram os trinta dias do mês de Elul mais os dez dias que separam Rosh Hashaná de Iom Kipur. Nós também começaremos na próxima quarta-feira, de maneira simbólica, nossa estadia de quarenta dias sobre o Monte Sinai.
Acreditamos que Deus está mais próximo de nós durante este mês. Os rabinos construíram uma metáfora para ilustrar esse momento. Durante o ano, Deus encontra-se em Seu palácio. Assim, todos que quiserem falar com Ele, terão que fazer uma jornada, ultrapassar os guardas do castelo e finalmente poderão se encontrar com Criador do Universo.
Em Elul é diferente. Deus abandona Seu palácio e vem nos visitar. Recebemos o Eterno em nossas casas e sinagogas, esbarramos com o Criador nas ruas de nossas cidades. Por esse motivo, o momento é apropriado para uma profunda reflexão que será ouvida com mais rapidez e maior atenção.
Quanto mais próximos nos encontramos de Deus, maior é a nossa responsabilidade de aproveitar o momento para refletir sobre nossas vidas: tenho sido um bom filho e neto? Tenho contribuído com a minha comunidade? Tenho sido um bom pai e avô? Tenho agradecido a Deus pelas minhas bênçãos?
Que saibamos aproveitar a proximidade com Deus que este período nos proporciona e comecemos a nos preparar hoje mesmo para o início de um novo ano e, por que não, o começo de uma nova vida.
Shabat Shalom,
Rabino Michel Schlesinger