Sou argentina de nascimento, israelense por opção e em breve serei residente brasileira.
Nos últimos anos, servi comunidades em Israel, Espanha e África do Sul. Chegar a um novo lugar não é fácil —  requer paciência, disposição de aprender e vontade de fazer parte. 

A parashá desta semana nos conta que Deus pede a Moisés que envie para ele (“shelách lechá”) anashim (“homens”) a C’naan, com o objetivo de descrever a terra e seus habitantes. Doze homens, um de cada tribo, entrarão na Terra Prometida e voltarão para contar ao povo o que viram. Percorreram a terra por quarenta dias e, ao voltarem, dez deles deram um informe desfavorável: “A terra que fomos explorar devora seus moradores, que são de grande estatura. São gigantes, filhos de Anac (gigante). Diante deles nós parecíamos gafanhotos, aos nossos olhos e seguramente aos olhos deles” (Números 13:32).

Ao ler essa descrição, penso em quais foram as emoções desses exploradores. Se acharam pequenos e supuseram que eram vistos assim. Tiveram medo, tanto que recomendaram não entrar na terra prometida.  Por acaso voltar ao Egito seria uma opção? O medo muitas vezes nos paralisa ou nos faz querer fugir.

Os exploradores também comeram os frutos da terra —  uvas, romãs e figos gigantes e maravilhosos; viram que era uma terra da qual jorra leite e mel; mas só dois deles foram capazes de ver as bênçãos da terra e disseram: “Devemos subir para herdar a terra porque podemos fazê-lo” (Números 13:30). Podemos fazê-lo! Cabe a cada um de nós escolher aceitar o desafio.

Descrever a terra a partir do amor, e não a partir do medo e do ódio, é o que aprendemos de nossas fontes e de nossos sábios. “Hillel, o ancião, diz: meus pés me levam ao lugar que meu coração ama” (Tosefta, Sukka 4:2). Baseada nessa passagem, a rabina Tamar Duvdevani escreveu uma tefilat hadérech (oração antes de uma viagem):

     “Deixe que meus pés vão
     Ao lugar
     Que meu coração ama
     Abra meu coração para amar
     O lugar
     Ao qual meus pés caminham”

Amar é aceitar a complexidade. Amamos nossas famílias, nossos amigos. Não os consideramos perfeitos, podemos criticá-los, podemos não concordar com eles, e ainda assim amá-los. O mesmo acontece com os lugares em que vivemos: nossa comunidade, nossa sociedade, nosso país. Amar requer de nós conhecer e reconhecer. Amar o lugar ao qual estamos indo e ir ao lugar que amamos.

Queira Deus que tenhamos a capacidade de amar nossos lugares, aceitar sua complexidade, fortalecer suas fraquezas, festejar suas conquistas e criticar seus erros. Que sejamos dignos exploradores de nossas terras e tragamos a elas amor e paz.

Shabat Shalom,

Rabina Tati Schagas