“Ieshcoiach”
“Ieshcoiach”. Estamos acostumados a ouvir essa expressão na sinagoga, mas não sabemos, necessariamente, o que ela significa. Quando alguém é chamado à leitura da Torá, para a abertura do Aron HaCódesh, para uma mensagem religiosa, entre outras funções, essa expressão aramaica, com pronúncia Ídiche, é usada para saudar o participante.
“Ieshcoiach”, em aramaico se pronuncia “ieassher cochachá”, que suas forças se equilibrem. Desejamos, dessa maneira, que as possibilidades intelectuais de um indivíduo encontrem equivalência em suas forças emocionais e vice-versa.
Muito antes de se falar em inteligência emocional, a teoria que ganhou fama em 1995 com a publicação do livro de Daniel Goleman, a tradição judaica já previa a noção de que diferentes forças atuam sobre a pessoa e de que a busca do reforço de uma delas em detrimento das outras não conduz a um caminho desejável.
Aquele que desenvolve sua capacidade intelectual, mas não possui atributos emocionais para acompanhar esse crescimento, tende a ser uma pessoa inteligente sem ferramentas sociais e afetivas. Ao mesmo tempo, aquele que investe em sua afetividade sem, no entanto, desenvolver algum crivo racional, transforma-se em uma pessoa passional com ausência de freios essenciais para o convívio em sociedade.
Vaiakhel-Pekudei, a leitura da Torá desta semana, nos ensina que as pessoas envolvidas na construção do santuário que acompanhou os israelitas em sua perambulação nômade no deserto eram Chachmei Lev, sábios de coração. Chachám lev parace ser uma expressão muito similar, e talvez até a origem da frase “ishcoiach”, usada nas sinagogas em nossos dias. Um sábio de coração é alguém que possui algum equilíbrio entre sua sabedoria e sua capacidade afetiva.
Que Deus inspire nossa CIP a continuar seguindo o caminho de uma vivência de um judaísmo pensante. Que incrementemos na nossa comunidade e também em nossas vidas a prática da Cashrut, da tefilá, do Shabat, do casamento embaixo da chupá, do brit-milá e simchát-bat, do luto judaico, das festas religiosas e Ticún Olam. Ao mesmo tempo, que a vivência desses rituais não nos prive da possibilidade de continuar pensando de maneira investigativa, complexa, elaborada, sofisticada e crítica, pois esse é o antídoto contra o fanatismo. Assim, continuaremos dignos um sonoro “ishcoiach”.
Shabat Shalom.
Rabino Michel Schlesinger