Estamos chegando aos últimos capítulos do livro de Devarim (Deuteronômio), e nesta semana lemos a parashá Ki Tetsê. Nela encontramos leis que se referem ao indivíduo, sua família e seus vizinhos, além de diversas leis a respeito do bem-estar da mulher.

 

No início do trecho, aparecem as normas que regram o casamento de um soldado israelita com uma prisioneira de guerra. Estão também as leis referentes à herança de um primogênito e os castigos para um filho rebelde. Em seguida, verificamos leis que se referem à propriedade de animais domésticos, vestimentas, casas e plantações de uva. Leis referentes a diferentes condutas sexuais são também relatadas neste trecho. Ki Tetsê também se refere à necessidade de se assistir aos desfavorecidos, como os estrangeiros, órfãos e viúvas.

 

Podemos fazer uso em nossos dias de algumas leis que aparecem na leitura desta semana. Por exemplo:

 

Como agir quando encontramos um objeto perdido?

 

Uma pessoa que acha um objeto perdido ou um animal e não tenta restituí-lo ao seu proprietário é considerado ladrão. O indivíduo que o encontrou precisa fazer um anúncio público e fica responsável pelo bem até que este seja restituído ao dono. O proprietário precisa ser capaz de descrever detalhes do objeto e comprovar a sua propriedade. Se não houver sinais que identifiquem o objeto encontrado, este será considerado sem dono (Tratado de Baba Metzia). Hoje existem iniciativas de bancos online de achados e perdidos.

 

Tzaar Baalei Chaim

 

Para que uma ave não sofra, seus ovos e filhotes não podem ser retirados na sua presença. Com base nesta lei foram desenvolvidas normas que protegem os animais de toda espécie de sofrimento. Existe uma ONG em Israel chamada Tzaar Baalei Chaim que se ocupa de ajudar animais de rua. Entre outro projetos, retiram gatos da rua, os castram e os recolocam no mesmo lugar.

 

A proibição de usar roupas do sexo oposto

 

Algumas autoridades rabínicas interpretaram esta regra proibindo as mulheres de usarem calças porque, segundo eles, essas seriam vestimentas masculinas. Contudo, as regras da Torá precisam ser interpretadas à luz do tempo em que vivemos, e hoje as calças fazem parte tanto do vestuário feminino quanto do masculino. Da mesma maneira, um escocês que usa um kilt, bastante parecido com uma saia, não está transgredindo nenhuma norma da Torá.

 

Tão importante como conhecer a lei é permitir que ela continue conversando com a realidade para que não se torne irrelevante. É justamente o dinamismo da lei que permite que ela continue fazendo sentindo em um realidade contemporânea.

 

Shabat Shalom.

Rabino Michel Schlesinger