Lição de liderança

Depois de um sabático de três meses de estudos em Londres, voltei para São Paulo e tenho o prazer de compartilhar, junto com você, este primeiro Cabalat Shabat na CIP, começando a contar sobre as minhas experiências

No final da leitura da parashá da semana passada aparece Pinchás, sobrinho-neto de Moisés, que toma a justiça em suas mãos e mata os que considera pecadores. Justamente Pinchás empresta seu nome à leitura desta semana.

A parashá Pinchás nos conta que, antes de entrar na Terra prometida, foi realizado mais um censo para verificar quantos eram os membros do Povo de Israel que se encontravam no deserto. Eis o resultado: seiscentos e um mil, setecentos e trinta homens com mais de vinte anos. As terras então seriam repartidas entre as tribos por meio de um sorteio, sendo que cada tribo ganharia um lote proporcional ao seu tamanho.

A Torá afirma que as pessoas que se encontravam naquela ocasião no deserto não eram as mesmas do censo anterior, realizado no Sinai. Aquela geração morreu por decreto de Deus e uma nova geração já havia despontado e aguardava pela conquista de Canaã. Os únicos da antiga geração que poderiam entrar na Terra, destaca o texto, eram Caleb e Josué, os dois espiões que elogiaram Canaã e tentaram persuadir o povo a conquistá-la.

As filhas de Tselofchad se apresentaram perante Moisés com um pedido de posse de terra. O pai delas havia morrido no deserto e não tinha deixado nenhum filho, apenas filhas. Elas temiam que as terras saíssem da guarda da família, uma vez que apenas homens as poderiam herdar. Moisés levou a causa perante o Eterno.

Deus atendeu ao pedido das moças e nos ensinou a regra de transmissão de heranças. Quando um homem morrer e não tiver filho, a herança é transmitida para a filha. Se não tiver filha, a herança passa aos seus irmãos. Se não tiver irmãos, a herança passa para os tios por parte de pai. A última possibilidade é transmitir a terra ao parente mais próximo da família. Ainda nesta parashá, Deus ordenou a Moisés que subisse no monte Abarim e visse a Terra Prometida. Apesar de liderar o povo durante todos esses anos em direção a Canaã, o líder não teria a chance de entrar na Terra, mas apenas avistá-la ao longe. Segundo a Torá, Moisés não entraria em Israel pelo o fato de não haver atendido corretamente a ordem de Deus, segundo a qual deveria conversar com uma pedra para que esta desse água ao povo. Ao invés disto, o líder bateu com seu cajado sobre ela. Apesar de receber a notícia de que não entraria na Terra Prometida, Moisés continuou a agir como um verdadeiro líder e se preocupou com o futuro do povo. Ele pediu ao Eterno que nomeasse um novo guia para que o povo não ficasse como ovelhas sem pastor. Deus nomeou Josué como sucessor de Moisés. O trecho da Torá termina com uma descrição do ritual que seria realizado no Templo de Jerusalém por ocasião do novo mês, Rosh Hodesh, e demais festividades judaicas. Esses últimos versículos desta parashá são lidos em nossas sinagogas por ocasião de cada um dos feriados religiosos.

Shabat Shalom
rabino Michel Schlesinger