Por que eu?
Em diversas situações nos vemos conduzidos a perguntar “por que eu?”
Quando somos cobrados e acreditamos que a responsabilidade é de outros, quando passamos por uma prova de saúde, própria ou de alguém muito próximo cuja prova se torna própria, quando não recebemos o que esperávamos pelo esforço investido ou pelo mérito de nossa capacidade.
Será que alguma vez nos perguntamos “por que eu” quando as coisas saem melhor do esperado? Quando ganhamos mais do que pensávamos que ganharíamos, quando recebemos mais reconhecimento, mais dinheiro, poder, apoio, confiança, amor?
Se sim, de onde surge esta pergunta? É também uma reclamação ou é uma busca de sentido? Há nela uma dose de culpa ou uma procura por uma missão?
Alguns sobreviventes da Shoá (e de outras tragédias) vivem se perguntando “por que eu me salvei?”, “por que eu e não outras pessoas com mais mérito e com mais condições de fazer melhor ou até pessoas mais jovens?”
Na parashá da semana a matriarca Rivca engravida após ter presenciado a reza pela fertilidade invocada por Itschak. Sente na sua barriga a movimentação violenta dos gêmeos e se pergunta “por que eu?” e resolve ir demandar ou exigir uma resposta de Deus. O verbo usado é lidrosh e será o que dará início a todos os debates, lendas, anedotas, comentários e predicas rabínicas até os nossos dias. Lidrosh é o verbo que criou o midrash e a drasha ou prédica. A leitura subjetiva no melhor sentido da palavra. Aquela que coloca seu sujeito na narrativa e busca um sentido pessoal. Aquela que se apropria do texto e da vida com empatia e responsabilidade e pergunta “o que isto diz a meu respeito?”, “o que me cabe entender e fazer a respeito?”, “por que EU, com estas condições, estou aqui?”, “qual minha missão?”, “qual meu sentido?”.
Rivca talvez se perguntasse o que devia fazer diante da disputa entre seus filhos, na barriga, adolescência, juventude e depois entre os povos que cada um criou.
Que possamos descobrir com coragem responsável quais são nossas forças e nossos potenciais em cada situação e assumir com valentia os sentidos e as missões que deles nos apresentam.
Shabat shalom
Rabino Dr. Ruben Sternschein