Presencial ou online? Essa pergunta cotidiana dos tempos pandêmicos traz à tona um dos maiores desafios de nossos tempos: como estar presente, e o que isso significa?

A tecnologia que nos alienava, nos afastava, nos encerrava na tela, se tornou o local de encontro e contato maior, às vezes o único possível. Nos estendeu os braços, os olhos, as mentes, e ouvidos. Nos permitiu estar com mais pessoas em mais locais ao mesmo tempo.

Junto com isso, ampliou a distração e a perda de foco. Nos encontros virtuais, todos olhamos para a tela, mas nem sempre para os olhos de quem fala. Ouvimos, mas nem sempre prestamos atenção. Geralmente a tela está aberta também em chats, conversas por WhatsApp, sites e outros focos. De fato,estamos menos em cada momento, em cada local, em cada conversa e com cada pessoa. Além de deixarmos de sentir o calor, a respiração e o bater do coração de quem “encontramos” na tela.

A parashá da semana se chama Nitsavím, que significa “presentes”, e enfatiza que se requer uma postura de presença completa: atem nitzavim haiom kulchem. E não para por aí. O texto bíblico exorta a que sejam convocados, junto a nossa presença física, também aqueles que não estão hoje aqui fisicamente conosco, Veet asher einenu po imanu omed haiom (e aqueles que não estão parados conosco aqui hoje). A abertura do discurso de despedida de Moisés começa com esse chamado enigmático e potente: estar erguido em presença total junto aos que não estão. Como se, sempre que estivéssemos em algum lugar, trouxéssemos junto outras pessoas: entes queridos falecidos, legados, pendências, frustrações, assim como os filhos e netos ainda não nascidos, sonhos e desejos ainda não realizados. Quem trazemos conosco quando estamos presentes? Como nos colocamos? Quais partes de nós, de nossas histórias, de nossos futuros, de nossas ansiedades e medos, de nossas vontades e desejos?

Conta-se do sábio Hillel que disse im ani kan hacol kan, “se eu estou aqui tudo está aqui”. Alguns leram a sentença como um ato de humildade, como indicando que se ele pode estar nesse local experimentando a felicidade e o sentido de gratidão que sentia, todos podem, qualquer um poderia. Eu quero sugerir outra leitura: se eu estou realmente aqui, então todo meu passado, todas as minha memórias, tudo o que me trouxe até aqui está junto comigo. Presente e consciente. E também todas as expectativas que meus sonhos e potenciais despertam e mandam. E vice-versa: só se eu conseguir a consciência de tudo que me trouxe até aqui eu estarei realmente presente em minha totalidade neste local e neste momento.

A parashá termina com a última mitzvá da Torá: escolher a vida.

Que saibamos estar totalmente presentes para escolher viver plenamente cada momento.

 

Shabat shalom,

Rabino Ruben Sternschein