Quando vai se aproximando Pessach muitas famílias começam a se preocupar. Existe uma limpeza da casa que deve ser feita: separar alimentos que podem e não podem estar à vista durante a semana da festa, e algumas famílias até trocam toda a louça. Começamos a nos preocupar com o Seder. Como ele será? São tantos passos… Não será muito longo? As pessoas vão aguentar? Quem vai vir e o que vamos servir? E assim por diante.
Pessach é talvez a festa mais estressante de todo o calendário. Muitas vezes vamos lembrar somente enquanto tomamos as quatro taças de vinho e cantamos algumas músicas que representam a festa da liberdade. Ficamos tão imersos nos deveres da festa que seu motivo principal acaba ficando em segundo plano.
Talvez seja difícil nos imaginar saindo do Egito, ou fazendo parte daquela geração. Mas não deveria, pois o tema da liberdade, de sua busca e conquista é sempre atual. Não só atual, mas tem um elemento de nossa responsabilidade que não tinha na saída “original”.
O povo sofre e Deus escuta seu clamor e vem salvá-los. Precisa das pragas para convencer também os próprios hebreus de que era um Deus confiável. Precisa dos 40 anos no deserto para que a geração escrava seja atualizada por uma livre. O povo, durante a travessia do deserto reclamará muitas vezes, demonstrando um desejo de voltar ao Egito, onde a vida era mais fácil. Quando os outros decidem por nós, nos tira o peso da escolha, mas acrescenta outro, ainda mais pesado, o de não poder escolher.
Nós somos herdeiros da geração livre. A geração que não apenas grita para clamar por liberdade, mas que tem o dever de agir. E a liberdade, ou falta dela, está presente nos mais diversos lugares, com as mais diversas facetas.
A vida é cheia de escolhas? Nós ponderamos as nossas ou as fazemos baseadas em impulsos, ou na moda?
Temos que aprender, geração após geração, a assumirmos a responsabilidade de nossas escolhas, do impacto delas em nossas vidas e na vida dos demais, às vezes próximos e às vezes distantes de nós. Somos conscientes de que nosso consumo aqui em São Paulo pode afetar vidas tanto na nossa própria esquina quanto do outro lado do planeta?
Quando Deus nos tira do Egito, não é para continuarmos dependentes do outro, seja de um líder ou de uma tendência. É para sermos seres pensantes, para também promovermos que outros sejam pensantes e poder oferecer a cada um a possibilidade de carregar o peso de suas próprias escolhas.
Aproveitemos as grandes preocupações pela forma da celebração de Pessach para escolher, para decidir, e principalmente para pensar como estamos proporcionando aos outros a mesma possibilidade.
Shabat Shalom
Chag Pessach Casher veSameach
Rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik