Se você tivesse que escolher entre o aqui e o agora, ou o além e o futuro, o que escolheria? 

E entre a sua verdade, sua autenticidade, o que lhe faz bem, o que tem sentido e valor para você, ou o bem comum, o dever, o coletivo, a humanidade, a história — o que você priorizaria?

A parashá da semana, Acharei Mot, inclui um parágrafo lido também em Iom Kipur no rito tradicional que descreve um ritual cruel na sua literalidade, mas bem interessante nos seus simbolismos. 

Tomavam-se dois cabritos. Um foi sacrificado, e o outro liberado. O primeiro morria imediatamente, consagrado a Deus. O segundo teria liberdade e viveria — só que morreria lentamente, sozinho, e com bastante sofrimento pela fome e pela sede.

Vários símbolos: primeiro a diferença entre o aparente e o profundo. À primeira vista, os dois cabritos são iguais, mas rapidamente constatamos que não. Aparentemente um morre e outro é liberado, mas lentamente. Um sofre e o outro não. 

Segundo a autonomia: um é marcado por um destino pré-fixado, o outro fica livre à sua própria determinação.

Terceiro a dedicação: um é dedicado a Deus — sua vida e seu corpo são entregues a um bem maior, a uma suposta santidade, a um sentido elevado. Só que, para isso, ele renuncia totalmente a sua vida. O segundo cabrito dedica toda sua existência à sua própria vida, sua manutenção e talvez seu desenvolvimento.

Quarto, a socialização pública. Um vive e morre em público, como um ato social, como símbolo. O outro vive com e em si próprio.

A parashá, em outro trecho, estabelece um princípio fundamental da Torá e do judaísmo: que ambos existem para que possamos viver neles. Os sábios explicam: nossa tradição enfatiza a vida, é uma forma de viver, de ampliar e estender a vida, e nunca prega a morte. Devemos viver o judaísmo, viver mais por meio dele, viver para vivê-lo e vivê-lo para viver mais e melhor. Viver em virtude dele. Viver sua virtude.

Ou seja, o judaísmo estaria conectado sempre à vida aqui, seria a razão e o objetivo para a vida ao mesmo tempo e modo também.

Que saibamos realizá-lo.

 

Shabat Shalom,

Rabino Ruben Sternschein