Primeiro Shabat de Pessach – Águas de Pessach

A festa de Pessach é rodeada por águas. Apesar de lembrarmos da saída do povo do Egito para a secura do deserto, por qualquer lado que olhemos, está rodeada por água.

Quando , que não conhecia a história de como Iossef salvou o Egito e toda região de uma época de fome intensa, sobe ao poder, fica com medo do povo hebreu que crescia e manda matar a todos os bebês no rio. Da inigualável paz e proteção das águas do útero, partiriam para o terror das águas do Nilo.

Duas parteiras se negam e pelo menos um bebê é salvo. É levado ao rio, mas para ele ser resgatado e anos depois liderar seu povo para fora da servidão em direção à Terra Prometida.

Quando saem do Egito, se encontram com o mar. Água que se abre para deixar o povo passar e que se fecha para afogar o exército do Faraó. Atravessar o mar foi o primeiro ato concreto de fé em Deus desse grupo de pessoas. O Midrash nos conta que o mar só abriu depois que Nachshon ben Aminadav começou a atravessar. Os egípcios na sua missão cega de perseguição atravessam sem perceber e acabam dentro do mar.

Durante todos os 40 anos no deserto, tiveram um poço acompanhando seu percurso para se reencontrarem novamente com as águas do rio Jordão que os separava da ansiada Terra Prometida,  que deteve seu fluxo para deixar o povo passar e conquistá-la.

A festa de Pessach é a festa da primavera, festa que marca o final da época de chuvas em Israel para um reinício e um florescimento.

Não nos deveria surpreender que a água faça parte do Seder de Pessach. O Seder, que tem como função de preencher a noite com símbolos tanto da servidão no Egito quanto de sua posterior liberação, não poderia deixar de ter águas. Uma água mais discreta e outra que talvez ainda não tenha aparecido em todas as casas.

A primeira é a água com sal na qual mergulhamos o Carpás. Este é um fruto da terra, que vem nos lembrar de que a primavera está chegando, mas é mergulhada nas lágrimas e suor. Uma estranha mistura do belo e do sofrimento. Que nos mostra que a dor acaba, que o sofrimento tem um fim e que devemos sempre ter a esperança de uma renovação e uma nova chance de florescer.

A outra é a água da redenção. Lembrando esse poço que nos acompanhou no deserto, colocamos o Cós Miriam, uma taça que não terá vinho, e sim água. Porque essa profetiza que anunciou, segundo outro Midrash, a chegada de Moshé, é também quem garante que seu irmão saia com vida do rio que poderia ter significado sua morte.

Que cada um possa encontrar suas próprias águas nesse Pessach. Que as águas que simbolizam o medo e o sofrimento possam ser rapidamente substituídas pela água que traz proteção e esperança. Convido a todos a colocarem um Cós Miriam em suas mesas, para que a esperança ganhe mais força podendo superar o sofrimento da água com sal.

Shabat Shalom

Chag Pessach Casher veSameach

Rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik