A parashá desta semana inclui uma série de temas que parecem não se conectar uns com os outros. Começa com o censo de duas famílias levitas: Gershoni e Marari, os homens com idade entre 30 e 50 anos de idade e suas tarefas e deveres no transporte de diferentes partes da Tenda de reunião. Na sequência, duas leis e procedimentos para quando uma pessoa está impura e quando uma pessoa comete um erro com outra. Na continuação, nos encontramos com as leis e as práticas no caso de uma mulher ser acusada ou estar sob suspeição de adultério pelo seu esposo. Logo lemos sobre o Nazir, homem ou mulher que faz a promessa de se dedicar a Deus e se abstém de uma série de práticas e alimentos voluntariamente. Nos versículos seguintes, aparece uma das rezas mais antigas ainda recitada: a Benção Sacerdotal; e finalmente nos encontramos com a listagem de presentes que cada um dos líderes das tribos traz na dedicação do tabernáculo. Os presentes são exatamente os mesmos e, ainda assim, o texto dedica longos versículos para repetir cada listagem, nomeando cada uma das tribos.

O rabino Jonathan Sacks, no seu comentário desta parashá no ano 5771 [1], se pergunta qual é o fio, a lógica, que atravessa todas estas temáticas da parashá que parecem não ter nenhuma conexão. Sacks entende que a resposta está na última palavra da bênção sacerdotal: shalom, paz. Baseado nas interpretações do rabino Itzchak Arama (Espanha, 1420 – Itália, 1494), Sacks explica que shalom não é só a falta de conflito, mas — paz e shlemut — significa completude, perfeição, harmonia dentro de um sistema complexo, paz e integração da diversidade.

A ideia de shalom e shlemut como integração da diversidade, espaço onde todas e todos temos lugar, voz, somos acolhidos e respeitados, é uma interpretação que vocês têm ouvido e lido dos rabinos e rabinas da nossa comunidade. Por que então trazer as palavras do rabino Sacks? Porque ao falar de integração e diversidade devemos ver com atenção: quem define os limites da integração? Quem amplia a diversidade? Quem conta nesse sistema complexo? O que chamamos de harmonia?
As definições de aceitação, integração e diversidade variam em diferentes sociedades, povos, religiões, movimentos religiosos dentro das religiões, ideologias políticas sociais econômicas e mais. Quais são essas definições na nossa comunidade CIP? Será que todos e todas sem distinção de idade, de gênero e sexo, de situação socioeconômica, de identificação partidária, conseguimos definir, juntos, quem pertence ao nosso sistema complexo para que possamos alcançar a paz e a completude?

Junho é o mês da diversidade, inspirado pelo Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. Queremos convidar vocês a ter essa conversa em suas casas com suas famílias, a participar de encontros sobre esta temática em nossa comunidade. Que este Shabat encontre a todas e todos com vontade de nos conhecer e reconhecer. Que a bênção sacerdotal possa inspirar a nossa comunidade. Que saibamos cuidar umas das outras; que sejamos fonte de luz e bondade; que alcemos nossos olhos e construamos uma comunidade de paz.

 

Shabat Shalom,

Rabina Tamara Schagas

 

[1] https://www.youtube.com/watch?v=U1exM5oNbV4 

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