Neste Shabat, para coincidir com a festa de Pêssach, deixamos a ordem das leituras semanais da parashá e lemos uma leitura especial sobre o chag. Alguns versos do trecho que lemos no primeiro dia de Pêssach têm sido fonte de confusão através das gerações. Minha intenção com este comentário é ajudar a esclarecer essa confusão. 

Está escrito: “Moisés então convocou todos os anciãos de Israel e disse-lhes: Vão, escolham cordeiros para suas famílias, e abatam a oferta de Pêssach. Peguem um ramo de hissopo, mergulhem-no no sangue que estiver na vasilha e apliquem um pouco do sangue da vasilha na verga e nos dois batentes da porta. Nenhum de vocês deve sair pela porta de suas casas até a manhã. Porque o eterno, quando passar para ferir os egípcios, verá o sangue na verga e nos dois batentes da porta e o Eterno passará sobre a porta e não deixará o destruidor entrar e ferir suas casas. Vocês guardarão isto como uma instituição por todo o sempre, para vocês e seus descendentes. E quando entrarem na terra que o Eterno lhes dará, como prometido, vocês guardarão este rito. E quando seus filhos perguntarem: o que você quer dizer com este rito? Vocês dirão: ‘este e o sacrifício de Pêssach para o Eterno, que passou por cima das casas dos israelitas no Egito quando feriu os egípcios, mas poupou nossas casas.” (Êxodo 12:21-27)

Seria essa a origem da mezuzá? A mezuzá é um rito que guardamos desde então e que protege nossas casas? A mezuzá nos lembra que Deus nos salvou do anjo da morte no Egito? Toda vez que saímos ou entramos em nossas casas, lembramos a última das pragas, a morte do primogênito no Egito? A resposta é não.

O mesmo texto nos ensina, se lermos atentamente, que a mitzvá que devemos cumprir por gerações é o sacrifício pascoal, o korbán Pêssach. Apenas a geração do Egito teve que marcar os batentes das portas das casas com sangue. Pêssach Mitzraim, o Pêssach da saída do Egito acontece uma vez só, e a partir daí celebramos Pêssach dorot, o Pêssach das gerações, que celebra nossa libertação e lembra o que nossos ancestrais viveram.

A mitzvá da mezuzá está na Torá, mas só aparecerá no livro de Números e Deuteronômio. A mezuzá é um símbolo das palavras de nossa tradição que devemos dizer, ensinar e transmitir. A mezuzá nos lembra que devemos encontrar um equilíbrio e ser coerentes dentro de nossas casas e fora delas. Os valores de nossa tradição fazem parte de nossas vidas quando vamos para a cama e quando nos levantamos, na estrada, em nossas saídas e entradas, em nossas casas, nas cidades e fora delas também. 

Nossas mezuzot não são itens de proteção, nem são amuletos. A mezuzá é um símbolo da nossa aliança com Deus, a proclamação de sua singularidade e a compreensão de transmitir e ensinar a cada geração. A mezuzá é um símbolo que nos lembra do nosso compromisso e de como devemos agir neste mundo.

Que neste Shabat, que coincide com a festa de nossa libertação, estejamos cientes da responsabilidade que nossa liberdade nos apresenta. Que este mundo seja um mundo melhor para todos os seres que vivem nele.

 

Shabat Shalom

Rabina Tati Schagas