A parashá desta semana, Reê, é uma parashá difícil de ler e, na minha opinião, difícil também de aceitar. Nela, assim como desde o começo do livro de Deuteronômio, Moshé está se despedindo do povo, lembrando o caminho no deserto e as instruções de Deus dos últimos quarenta anos. Especial atenção e ênfase têm as leis que deverão ser cumpridas ao entrar na terra de Israel.

Nesta parashá, lemos sobre a obrigação de destruir os povos que estão na terra que Deus prometeu, os castigos a aqueles que não cumprirem as leis do Eterno, os sacrifícios que deverão ser feitos só e unicamente no lugar que Deus escolher, e também sobre leis de escravos e kashrut.

Como em outras partes de nossa Torá, somos apresentados a um Deus ciumento, que castiga, que só premia a quem faz exatamente seu desejo. “Apliquem-se a fazer tudo o que eu ordeno a vocês; não acrescentem nem tirem coisa alguma.” (Deut 13:1)

É difícil se conectar com a ideia de prêmio e castigo, embora às vezes nos perguntemos: por que isso não funciona? Por que há pessoas boas que sofrem? Quantas pessoas más existem que parecem não receber seu castigo? Às vezes desejamos que tudo seja bem claro, branco ou preto, e que possamos esquecer que nada neste mundo é absoluto, além da unicidade de Deus.

Em tanta complexidade, devemos lembrar que nossas ações têm consequências e que no deserto nos convertemos em povo. Como sociedade também temos responsabilidades. A soma de nossas ações, como grupo, como comunidade, como povo, também faz diferença. Lemos na parashá desta semana: “Não fareis conforme a tudo o que hoje fazemos aqui, cada qual tudo o que bem parece aos seus olhos.” (Deut 12:8) Ao compartilhar a terra, ao nos constituirmos como comunidade e nos comprometemos a fazer junto — não como indivíduos, não como cada um deseja e acredita — devemos fazer pelo bem comum, de todas e todos. “Somente se obedecerem ao Senhor, o seu Deus, guardando todos os seus mandamentos, que estou dando a vocês, e fazendo o que é justo para ele.” (Deut 13:19)

Assim, atuando com consciência social é que a benção será coletiva: “Assim, não deverá haver pobre algum no meio de vocês, pois na terra que o Senhor, o seu Deus, está dando a vocês como herança para que dela tomem posse, ele os abençoará ricamente.” (Deut 15:14)

Que sejamos capazes de agir com consciência de comunidade, de sociedade; reconhecendo que nossas ações se refletem no mundo no qual vivemos. Juntos podemos fazer uma diferença maior. Agindo não só por nós mesmos e nossas famílias, mas por uma comunidade, uma sociedade melhor; mais justa, mais saudável.

 

Shabat Shalom,

Rabina Tati Schagas