— O que você sabe fazer? — perguntou o chefe de Recursos Humanos da grande empresa ao jovem monge que pretendia provar sorte no mundo corporativo.

— Jejuar, calar e esperar — respondeu o jovem.

Desse modo, Hermann Hesse disse em seu livro Siddharta que saber esperar é um desafio não menor que saber jejuar e saber calar. 

Samuel Beckett, na peça Esperando a Godot, sugere que estamos sempre esperando. Que viver é uma espera. Esperamos crescer, nos formar, vender, comprar, alcançar uma posição social, profissional e familiar. Esperamos aprender, entender, saber. Esperamos ganhar, esperamos amar e sermos amados.

A grande pergunta é: Como esperamos? Desesperadamente? Tentando matar o tempo? Sem conseguir fazer outras coisas? Tentando esquecer a espera?

A espera nem sempre precisa ser passiva. 

Será que cabe fazer algo em prol do esperado enquanto esperamos? Sempre é possível?

Nossos antepassados agricultores sabiam que, mesmo na espera do amadurecimento do fruto, devemos saber quando regar, quando proteger e quando deixar a natureza fazer sua parte. Mais claro ainda é o que podemos fazer em prol de outras esferas, cujas metas dependem muito mais de nós. A forma pela qual esperamos o título, o dinheiro, o amor, o filho, a sabedoria e a reconciliação é determinante de como chegarão a nós esses objetivos e de como nós nos encontraremos ao alcançá-los. Desgastados, abatidos, concentrados na meta seguinte em vez de desfrutando a alcançada, ou com uma motivação renovada e reforçada.

Nesta época do ano nos encontramos na contagem do Ômer, que é uma forma de contar o tempo entre a saída do Egito e a recepção da Torá. Contamos o tempo como quem espera a chegada de algo significativo. Essa contagem, segundo conta e manda a parashá da semana, existia, inclusive, antes da história da saída do Egito. Era uma prática agrícola realizada entre a primavera e a primeira colheita. Por meio dela, o agricultor se preparava para o grande dia de recolher os primeiros frutos, reconhecia sua função na espera e, ao mesmo tempo, sua limitação. Contava o tempo renovando sua paciência, sua força, sua responsabilidade e sua aceitação daquilo que não dependia dele. Ao mesmo tempo, renovava sua motivação dia após dia.

Nos nossos dias, a fórmula da contagem inclui uma frase sobre a valorização da obra diária de nossas mãos. Saber ver o significado de nossa influência para quem está à volta, para nós e para o próprio Deus. Segue com uma bênção pela consciência de vivermos mais um dia e de termos nos aproximado mais um dia de nossa meta. E, por fim, a contagem em si inclui o detalhe do dia contado e das semanas transcorridas.

Que possamos significar cada semana, cada dia e cada hora. Que saibamos reconhecer e valorizar a influência que podemos ter no que acontece no tempo que nos foi dado. Que saibamos esperar com renovada força, ilusão, paciência e ação as melhores metas. 

 

Shabat Shalom

Rabino Ruben Sternschein