Depois da extensa descrição, na leitura da semana passada, de como construir o Mishcán – o templo móvel que acompanhou o povo na travessia do deserto –, chegamos à descrição das vestimentas dos cohaním. A função dos sacerdotes seria instituída oficialmente após a conclusão da construção.

 

Especial cuidado e trabalho deve ser feito para a roupa do Cohen Gadól, do Sumo Sacerdote, que será Aharon, o irmão de Moshé. Várias partes e vários materiais eram empregadas nessa produção, como linho, ouro e pedras preciosas, e ela devia ser realizada por costureiros habilidosos.
 

Isso nos faz pensar: os cohaním passariam a ser importantes somente por vestir essas roupas? Eles seriam pessoas diferentes a partir do momento que estivessem com essas roupas? Será que somos diferentes quando nos vestimos de uma maneira ou de outra? Somos diferentes ou os outros nos veem de forma diferente?

 

Terminado o Shabat Tetsavê entramos na festa de Purim, caracterizada pelas fantasias e máscaras. O costume de se fantasiar é algo “muito recente” na tradição judaica: os primeiros relatos de fantasias e máscaras no chag são dos séculos 14 e 15 e têm uma clara relação com os carnavais que aconteciam na Europa. Desde então, muitos rabinos desencorajaram as fantasias, já que isso poderia levar a situações de leviandade.

 

No entanto, as fantasias se enraizaram profundamente na festa. O medo destes rabinos não é muito diferente do questionamento de sermos diferentes se nos vestirmos de forma diferente. A fantasia, como o próprio nome indica, nos permite explorar diferentes facetas. Mas, ao mesmo tempo, a fantasia de Superman não nos dá o poder de voar. Os cohaním deveriam marcar seus momentos de trabalho quando usavam as roupas sagradas, mas deveriam manter-se pessoas éticas e corretas sem elas.

 

As vestimentas servem para marcar as ocasiões, expressar humores, posturas e temores. Deveria ser algo que vem de dentro de quem somos para fora, e não ao contrário. Não devemos – e nem podemos – comprometer nossa ética e moral por estar vestido de uma ou outra maneira.

 

Se formos pessoas íntegras, as fantasias e máscaras farão parte de uma celebração saudável.

 

Shabat shalom veChag Purim Samêach.
Rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik