Uma Nova Chance

O grande plano da viagem em direção à Terra Prometida, depois de tantos anos de servidão no Egito, era poder viver uma vida como pessoas livres, com possibilidade de crescimento de povo, familiar e individual. Distanciar-se cada vez mais da vida de viver da obrigação de cumprir para o outro sem ter possibilidades de cumprir com os próprios desejos era parte do objetivo.

Estamos indo na direção de uma terra que emana leite e mel. Terra na qual, Deus vai nos ajudar a prosperar, tanto que até a própria Divindade nos alerta em vários momentos de lembrar que Sua ajuda nos faz prosperar e não o fazemos sozinhos.

A parashá dessa semana, talvez seja uma dose de realidade necessária para entender que por mais fantástica que pareça ser a Terra Prometida, ainda é parte da realidade.

É a parashá do Shnat haIovel, o ano do Jubileu. O ano no qual tudo volta a começar de novo. Todos temos uma nova oportunidade de tentar.

No mundo ideal, todos nós investiríamos em algo que acreditamos e esse investimento daria frutos. Teríamos prosperidade econômica e veríamos nossos projetos avançando. Nesse mundo ideal, todos viveríamos uma tranqüilidade financeira e poderíamos nos dedicar apenas ao que nos dá prazer.

Esse mundo é utópico. O mundo real funciona diferente.

No mundo real, muitos investimentos realmente dão frutos, mas uma enorme quantidade também falha. Às vezes apostamos numa nova ideia e ninguém compra, investimos muito tempo, energia e dinheiro em uma proposta que por uma ou outra razão não alavanca. Muitas vezes temos que adaptar, reavaliar e até abdicar de algumas tentativas. Isto pode nos deixar desgastados físicos, emocional e financeiramente.

Já imaginaram se houvesse uma possibilidade de que todas as cartas do jogo fossem redistribuídas e a partida do jogo da vida recomeçasse do zero? Talvez para aqueles que tiveram sorte em seus investimentos não fosse o melhor cenário, mas para aqueles que não tiveram tanto sucesso fosse a salvação. A Torá não está muito preocupada com o ganho pessoal indiscriminado e quer garantir um coletivo saudável que floresça como sociedade e não como um grupo de indivíduos que somente pensem em sua prosperidade individual.

Por isso existe o ano do Jubileu. A cada 50 anos, toda terra seria redistribuída para sua divisão original. A Torá entende que nem todos conseguirão prosperar, seja por um mau investimento, por uma praga natural, muita chuva, pouca chuva ou simplesmente porque o responsável não levava muito jeito para a agricultura. Deus sabe que alguns vão prosperar mais que outros. Se esse ciclo continuasse ad eternum talvez a desigualdade social atingiria grandes escalas (qualquer semelhança com a realidade é a pura verdade). Shnat haIovel vem para recomeçar. Para garantir uma sociedade mais justa em que todos têm a mesma oportunidade de crescer e principalmente de se reerguer.

Seria maravilhoso imaginar um mundo em que todos nós pudéssemos ter essa chance de recomeçar após a queda. Seria maravilhoso ter uma sociedade em que o valor principal fosse a sociedade.

Que possamos nos inspirar a sermos mais solidários. Que saibamos valorizar o que nos une como seres humanos nesse mundo e não o que cada um ganhou sabendo que tantos outros perderam.

Shabat Shalom,

Rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik