Moisés, no trecho lido nesta semana, recorda o momento em que pediu a Deus que lhe permitisse entrar na Terra Prometida: “Deixa-me passar, rogo-Te, e verei a boa terra, que está além do Jordão (…)”. Naquela ocasião, Deus irou-se com o pedido e respondeu: “Sobe ao cume da colina e levanta teus olhos para o Ocidente, para o Norte, para o Sul e para o Oriente, e contempla com os teus olhos, porque não passarás este Jordão”. Finalmente Deus ordenou que Moisés passasse a liderança a Josué da maneira mais positiva e enfática: “E ordena a Josué, anima-o e fortalece-o, porque ele passará na frente deste povo, e ele o fará herdar a terra que verás”.

 

Moisés pediu ao povo que ouvisse atentamente as leis que ele o ensinou e que não acrescentasse nem diminuísse nada daquilo que lhe foi ordenado. A segunda parte do pedido é mais fácil de compreender. O povo não deveria “diminuir” nenhuma ordem, não deveria deixar de cumprir nenhum preceito. Porém, a primeira parte das palavras de Moshé traz um pedido interessante. O povo não deveria acrescentar nenhuma lei àquelas ditadas por Deus.

 

Em princípio, poderíamos imaginar que acrescentar leis é algo positivo. Se a Torá nos exige o cumprimento de 613 mandamentos, qual seria o problema se observássemos 614 ou 800? Tenho a impressão de que Moisés não quer que percamos a essência do judaísmo. Quando somos radicais em relação a algum tema, deixamos de enxergar com clareza qual é o essencial e qual é o supérfluo. Se começássemos a cumprir mais mandamentos do que aqueles que nos foram ordenados, facilmente confundiríamos leis e correríamos o risco de cumprirmos estes em detrimento daqueles.

 

A noção de que quantidade é o que importa é estranha à tradição judaica. Aquele que inventa proibições ou cumpre mais mandamentos do que deveria cumprir desobedece um importante preceito da Torá e corre o risco de abandonar a essência.

 

Ainda nesta parashá, os Dez Mandamentos são recordados com algumas pequenas variações com relação ao relato anterior. Essas mudanças deram margem a diversas interpretações de nossos sábios em diferentes gerações e continuam sendo interpretadas em nossos dias. O Shemá Israel, a mais importante oração diária do Povo Judeu, também aparece na porção da Torá desta semana.

 

Este Shabat recebe o nome Nachamu (Consolai), pois esta é a primeira palavra da haftará lida no livro do profeta Isaías. Os próximos seis Shabatot, assim como este, serão também de consolo pelas tragédias recordadas em Tishá beAv. A mensagem de Isaías é de conforto e esperança.

 
 

Shabat Shalom.
Rabino Michel Schlesinger