Entre as principais qualidades de Abraão ressaltadas pelos nossos rabinos está a hospitalidade. Nosso primeiro patriarca realmente sabia receber bem as suas visitas.
 
Na leitura desta semana, Abraão aparece em um momento delicado de sua vida. Acabara de fazer sua própria circuncisão, aos 99 anos de idade, e enquanto se recuperava, viu em frente a sua tenda três visitantes se aproximarem.
 
A Torá relata detalhadamente todos os pormenores desta recepção: Abraão corre na direção deles e implora para que entrem em sua tenda, serve água para lavarem os pés, oferece sombra da árvore para descansarem, pão, tortas feitas na hora e carne de bezerro, e entre outras coisas.
 
Depois da refeição, as revelações. Aqueles não eram simples visitantes, mas anjos enviados por Deus. O motivo da visita é a transmissão de alguns recados extremamente importantes. O primeiro deles é que Abraão terá um filho com sua esposa Sara apesar dela ter vivido estéril até os 90 anos de idade. A notícia é recebida por Sara com uma risada e por isto o filho receberá o nove de Itschak (riso).
 
O segundo recado refere-se à destruição das cidades de Sodoma e Gomorra em virtude do comportamento dos seus cidadãos. Ao receber tal notícia, Abraão negocia com Deus um possível perdão aos habitantes daquelas cidades em homenagem aos homens justos que poderiam estar vivendo lá. Contudo, ao notar que não havia sequer dez pessoas de bem, percebeu que a destruição seria inevitável (essa é uma das fontes do Minián, quorum mínimo de dez pessoas para oração pública).
 
A parashá segue relatando os acontecimentos em Sodoma. Dois anjos entram na cidade para avisarem a Lot, sobrinho de Abraão, acerca da destruição que estava preste a acontecer. Os anjos são recebidos com hospitalidade por Lot, mas os habitantes da cidade estão enlouquecidos e querem maltratá-los. Lot, sua mulher e suas filhas fogem da cidade momentos antes da destruição e recebem dos anjos a seguinte orientação: durante a fuga, NUNCA OLHEM PARA TRÁS. A esposa de Lot olhou para trás e se transformou em uma estátua de sal.
 
Qual é o problema de se olhar para trás? Quero sugerir que a proibição não se refere à lembrança do passado, mas a atitude de viver preso a ele.
 
Que também possamos saber nossa origem e, ao mesmo tempo, sermos capazes de trilhar caminhos inéditos.
 
Shabat Shalom
Rabino Michel Schlesinger.