Shabat shirá, o shabat da canção. Na parashá Beshalách nós lemos sobre a abertura do Mar Vermelho e a canção entoada por Moshé e os hebreus e por Miriam e as hebreias, pela vitória dos israelitas sobre os egípcios. Já o texto da haftará traz a canção entoada por Débora e Barak, pela derrota de Yavin.
O Shabat Beshalách poderia muito bem ser chamado de “shabat hanissím” (shabat dos milagres), afinal é uma parashá em que são narradas grandes ocorrências milagrosas. Além da abertura do Mar Vermelho, também lemos sobre a pedra seca de onde brotou água para os hebreus, sobre o maná que alimentou nossos antepassados no deserto e sobre a vitória dos hebreus contra Amalec, que ainda encontra seu paralelo na batalha de Débora e Barak (no livro de Shoftím 4:4 – 5:31).
Tão interessante quanto os próprios milagres é o estilo de escrita, as palavras escolhidas pelo texto e a FORMA como as histórias são contadas. O Mar Vermelho não simplesmente se abriu, o milagre precisou de uma ação humana. Sabemos disso pela FORMA como o texto foi escrito: “[Moisés,] levante sua vara estenda sua mão sobre o mar e divida-o” (Ex 14:16).
Quando a pedra inanimada e seca faz brotar água de si, ela não age sozinha para saciar a sede dos nossos antepassados. Também aqui a ação humana é requerida: “bata na rocha [com sua vara], e dela sairá água e o povo beberá” (Ex 17:6).
Na batalha contra Amalec, os hebreus vencem, mas não sem dificuldades. Ao mesmo tempo, o texto nos conta sobre a liderança e ação de Moshé: “E quando Moisés levantava sua mão, Israel vencia, e quando sua mão descansava, Amalec prevalecia” (Ex 17:11). Não se tratava de um ato mágico, mas sim a ação de Moshé diante do povo, incentivando-o, o que os levou à vitória.
Com relação ao maná, o alimento milagroso que caía dos céus não pousava diretamente nas mãos de cada hebreu. O maná caía aleatoriamente no deserto e cada pessoa deveria se levantar, sair, colher o maná e trazê-lo para sua tenda, para então consumi-lo.
Mesmo relatando acontecimentos fora do comum, a FORMA do texto nos ensina que a ação humana propicia que o Divino aja. É nosso posicionamento ativo e prontidão que fazem com que milagres divinos aconteçam.
Shabat shalom,
Moré Theo Hotz
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