
Na Parashat Tetsavê, recebemos descrições detalhadas das vestimentas sacerdotais usadas por Aharon e seus filhos enquanto servem no Mishkan (Tabernáculo). Um elemento particularmente marcante é o Chóshen Mishpat, o peitoral da roupa sacerdotal, usado sobre o coração do Cohen Gadol (o Sumo Sacerdote):
“Aharon carregará os nomes dos filhos de Israel no Chóshen Mishpat, sobre seu coração, quando entrar no santuário, será como uma lembrança contínua diante de Deus” (Shemot 28:29).
Este versículo é poderoso porque conecta liderança, responsabilidade e identidade. O Cohen Gadol não servia como um indivíduo isolado; ele literalmente carregava os nomes do povo com ele, um lembrete de que seu papel não era sobre status pessoal, mas sobre representação coletiva. Em nosso mundo moderno, isso levanta uma questão importante: O que carregamos conosco? Como as identidades que usamos moldam nossas responsabilidades uns com os outros?
Em uma comunidade judaica liberal como a CIP, celebramos a riqueza das diversas identidades com orgulho. Hoje, vivemos muitas tensões entre nossas identidades pessoais e pertencimento comunitário. Em alguns espaços, podemos sentir pressão para nos conformarmos, enquanto em outros, podemos temer que a expressão plena de quem realmente somos nos torne inaceitável.
O Choshen Mishpat oferece uma lição profunda: nossas identidades não devem ser escondidas ou diminuídas, elas devem ser carregadas com orgulho, perto do coração e honradas de uma forma que fortaleça a comunidade. Além disso, o peitoral do Cohen Gadol era adornado com doze pedras preciosas diferentes, cada uma representando uma tribo diferente de Israel. Nenhuma pedra era igual, mas juntas, elas formavam um todo unificado. Isso nos ensina que a verdadeira santidade não é encontrada na uniformidade, mas na beleza da diversidade.
Uma sociedade justa e compassiva não apaga as diferenças, mas as abraça, vendo-as como essenciais para a maior tapeçaria espiritual.
Em um mundo no qual enfrentamos discriminação, exclusão e a luta para seremos vistos como realmente somos, a Torá nos lembra que o caminho para alcançar justiça demanda que haja inclusão. Como judeus, somos chamados a garantir que cada pessoa se sinta vista, escutada, respeitada, valorizada e mantida no coração da comunidade.
Que todos nós carreguemos os nomes e histórias daqueles que são marginalizados, promovendo inclusão, garantindo que nossas roupagens espirituais sejam tecidas com amor, justiça e o abraço de toda a humanidade.
Shabat shalom,
Rav Natan Freller.
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