A famosa imagem que mostra ou uma velhinha ou uma moça nova, dependendo de como direcionamos nosso olhar, revela, na verdade, o que acontece com todas as imagens: elas contêm mais de um conteúdo. Podem ser olhadas e interpretadas de mais de uma forma. E não só as imagens, também as situações nas quais nos encontramos, e também as palavras que ouvimos.
De fato, sempre estamos vendo e ouvindo muita informação ao mesmo tempo e depende de nós decidir como direcionamos este foco, o que deixamos “falar mais alto”. Neste instante você lê essas linhas, talvez escute minha voz, ou a sua, ou a da Psicologia ou a da Filosofia, e consegue fazer isso pois escolhe não focar seu olhar e seu ouvir em mais nada a seu redor. Você decide como e o que percebe.
A parashá da semana, primeira do segundo livro da Torá, Shemót, pode ser definida como a parashá das percepções, dos olhares, da responsabilidade por ver.
“Cresceu Moisés (no palácio, como egipicio), e saiu ao encontro de seus irmãos, e viu no sofrimento deles”, nos conta uma das primeiras linhas que protagoniza Moisés por escolha própria. Rashi pergunta: “como sabia que eram seus irmãos?” e responde: “porque escolheu entregar seus olhos e seu coração para sofrer com eles”. Escolheu sair e olhar para fora do palácio. Escolheu reparar nos escravos com empatia e compaixão. Então viu o sofrimento e se viu nele.
Em seguida, viu também um egipcio batendo num escravo e, logo, um hebreu batendo em outro. Em ambos casos interveio com determinação.
Já na solidão do deserto, parou de andar quando viu o arbusto em chamas e disse para si: “me aproximarei e verei esta grande imagem: por que não se consome o arbusto?!”. O midrash sugere que o arbusto estava lá fazia muito tempo, desde a criação do mundo, mas só Moisés viu-o. Porque quis parar, se aproximar e entregar seus olhos e coração, e ver e entender, e agir.
A história é determinada principalmente por pessoas assim: Newton viu, como todos antes que ele, que os corpos caem, mas só ele parou e se dedicou o suficiente a explorar e compreender o princípio, medi-lo e usá-lo. Hertzl viu o potencial de re-criação do Estado de Israel e entregou sua vida para realizá-la.
Não se trata apenas da história maior e dos grandes fenômenos ou projetos.
Quando Moisés é enviado a resgatar o povo diz:
— Quem sou eu para ir?
— Esse é o sinal. — respondeu Deus.
E mais nada. Os intérpretes sugerem: o sinal de que Moisés devia ser o escolhido é a mera pergunta que olha para si, que busca as razões dentro de si, que se escolhe para ser escolhido para tudo que for capaz.
Que tenhamos a coragem de escolher olhar sempre com responsabilidade, com empatia, dispostos a encontrar o melhor potencial de nós, de todos e de tudo, em cada situação, para agir em prol de sua realização.
Shabat Shalom,
Rabino Dr. Ruben Sternschein
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